Os robôs invadiram a cozinha e a inteligência artificial conseguiu antecipar desejos gastronômicos antes mesmo da fome.
Com pedidos por comando de voz e cardápios em realidade aumentada, a tecnologia foi protagonista. No campo do design, novas propostas coloridas estimularam nossos sentidos e, também, nossa imaginação.
Em meio a tamanha revolução, a sustentabilidade se manteve presente no menu, com mais estabelecimentos abraçando receitas à base de plantas e produtos de proximidade. 2023 não foi apenas sobre comer bem, foi uma jornada por sabores inovadores, estilos ousados e uma pitada de provocação.
Salas de jantar maximalistas tomaram conta do cenário gastronômico em 2023, transformando refeições em verdadeiras experiências sensoriais. O maximalismo não se limitou apenas à gastronomia, mas também à estética, com restaurantes como Shuggie’s, em San Francisco e o Café Mars, em Nova Iorque, adotando decorações exageradas. O renascimento dos restaurantes temáticos com designs extravagantes trouxe um contraponto ao minimalismo que dominou 2022.
A ascensão de restaurantes maximalistas pode fazer parte de um ciclo pós recessão, causada pela pandemia. Essa é leitura que a professora de história da arte Alison Pearlman compartilhou no portal "Eater", que descreve a onda de maximalismo nos Estados Unidos após a recessão do início dos anos 1990. Restaurantes grandiosos foram inaugurados, como Balthazar (1997), Le Cirque (2000) e a primeira versão de Tao em Nova York (2000), para um público interessado em experiências inovadoras, mas não excessivamente intelectuais.
Provando que a gastronomia não precisa ser tão séria, Elazar Sontag, da revista americana Bon Appétit, conclui que "Após uma pandemia que sugou a alma, os restaurantes estão aqui para nós de novas maneiras. Em conjunto com o recente renascimento de restaurantes temáticos, essas 'funhouses' de sobrecarga sensorial não lidam com toalhas de mesa brancas e decoração enfadonha".
Uma revolução na crítica gastronômica aconteceu em 2023. São eles, os influenciadores de comida do TikTok, que muitas vezes ditam se um restaurante vale a pena ou se é "pura enganação". Criadores de conteúdo como Keith Lee e as meninas do VIP List transformam experiências culinárias em vídeos curtos, compartilhando opiniões que podem alterar a clientela de um restaurante em questão de segundos. Apesar de serem muitas vezes subestimados, esses influenciadores exercem uma influência significativa sobre os consumidores, levando os restaurantes a se adaptarem a essa nova era de análises rápidas e bem-humoradas.
“Amem ou odeiem, é do interesse de todos levar a sério as avaliações do TikTok: se os frequentadores de restaurantes da próxima geração são nativos digitais, não há dúvida de que continuarão a se inclinar para análises faladas em sua linguagem.” analisou Li Goldstein, da revista Bon Appétit
Totens de autoatendimento e os polêmicos QR Codes? A tecnologia foi muito além em 2023. Estamos falando de realidade aumentada, pedidos por comando de voz e, é claro, robôs na cozinha.
O restaurante americano Sweetgreen inaugurou em maio deste ano a "Sweetgreen Infinite Kitchen", uma cozinha inteligente que monta, de forma automática, as saladas e bowls desejados pelos clientes. Segundo a revista Time, são preparados até 500 pedidos por hora, o que significa um tempo 50% menor do que os humanos conseguem atingir. Os consumidores, que fazem seus pedidos em um tablet, podem acompanhar a linha de produção robótica depositando os ingredientes selecionados nas tigelas.
Segundo a Tripleseat, plataforma de gestão de eventos em restaurantes, os cardápios digitais com realidade aumentada (RA), também marcaram o ano. Restaurantes estão usando esta tecnologia para oferecer cardápios digitais nos quais os clientes podem visualizar suas escolhas de pratos em 3D antes de fazer o pedido. Além de aprimorar a experiência gastronômica, esta solução também ajuda a reduzir arrependimentos e devoluções de pedidos.
Outra tecnologia que ganhou força em 2023 foram os pedidos por comando de voz com a ajuda da Alexa, da Amazon e do Assistente do Google. Os clientes podem usar esses dispositivos para fazer pedidos, reservas ou até mesmo perguntar sobre os especiais do dia, tornando a interação sem as mãos e intuitiva.
Com um crescente desejo por experiências mais ligadas à natureza e vida rural, restaurantes em 2023 estão apostando em receitas baseadas em plantas e ingredientes frescos. A busca por alimentos mais saudáveis e sustentáveis trouxe à tona também alimentos sem glúten, sem lactose e sem açúcar refinado. A ênfase em adicionar produtos locais nos menus dos principais restaurantes vem acompanhada de uma pressão para mais transparência e apoio às comunidades locais dentro da gastronomia.
Um dos primeiros restaurantes a oferecer um menu 100% vegano foi o Eleven Madison Park, em NY. Era 2021 e, com uma forte vontade de "redefinir o luxo", o chef Daniel Humm decidiu servir um menu à base de plantas, inspirado no desafio de conhecer mais profundamente os ingredientes. Possivelmente, Humm já previa que esta seria uma tendência - e uma realidade - em 2023.
Para Kim Hock Su, chef do estrelado Au Jardin, na Malásia, as opções à base de plantas, que se enraizaram entre as redes de fast-food e muitos outros setores da indústria alimentícia, finalmente estão ganhando aceitação entre os chefs de restaurantes sofisticados que precisam se adaptar às demandas dos clientes por opções mais saudáveis e éticas. E complementa sobre o tema, para o Guia Michelin, que seus clientes vegetarianos e veganos agora representam de 10 a 20 por cento do público diário do restaurante.