Junto do Brasil, ministros dos Estados Unidos, Itália, Turquia e Alemanha, por exemplo, participam de debates e analisam propostas em torno deste que é um dos maiores vetores da economia mundial. Além deles, fui convidada a participar de um dos painéis durante o evento sobre um assunto para lá de saboroso: o turismo gastronômico.
No ano ado, para a 6ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia, eu já havia rodado Belém em busca de suas maravilhas históricas e gastronômicas. O Mercado Ver-O-Peso, o restaurante Remanso do Peixe e o trabalho com cacau orgânico na Ilha do Combú vivem na minha memória e refletem as pautas do G20.
Agora, volto para a capital paraense para, na frente de líderes e de tomadores de decisões, dar ênfase ao turismo gastronômico e sua importância. Por isso, compartilho nesta coluna alguns dados que levei ao debate, uma vez que falar sobre eles é uma forma de jogar luz não só ao turismo gastronômico, mas ao setor em geral.
A começar, digo que o turismo gastronômico é sobre se entregar a experiências culinárias e se conectar com um destino por meio do paladar. Os sabores de uma região, seus ingredientes e suas práticas alimentares são parte intrínseca de uma cultura.
Assim, entra também o papel de quem viaja e de quem recebe: qualquer pessoa que se desloca a outro local precisa comer, fato que ressalta o papel do turismo gastronômico como fomentador de experiências e de geração de renda.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), a gastronomia é o 3º principal impulsionador de viagens no mundo. Para se ter uma noção, o mercado global de turismo gastronômico foi avaliado em cerca de US$ 1,08 trilhão em 2022, e deve alcançar a cifra de US$ 1,94 trilhão até 2031, de acordo com a Allied Market Research.
Assim, este patrimônio cultural imaterial torna-se cada vez mais um fator de distinção para a atração de turistas, de acordo com definições da OMT. Pegue por exemplo o Peru: o país sul-americano sempre teve uma rica biodiversidade e hábitos alimentares singulares, mas conseguiu se destacar com sua gastronomia no cenário mundial apenas recentemente.
Entre os tantos nomes que ajudaram isso a virar realidade, posso citar o chef Gastón Acurio, que deixou as as de lado para promover a gastronomia peruana mundo afora e, mais recentemente, Virgilio Martínez e Pia León, que colocaram o Central, eleito o melhor restaurante do mundo, no holofote mundial, ajudando a cimentar a reputação do Peru como um forte destino gastronômico.
Quer um exemplo ainda mais enraizado de como a gastronomia distingue destinos turísticos e ajuda a promover comunidades locais? A Itália é nossa boa e velha conhecida. Suas receitas são replicadas mundialmente todos os dias, e sua gastronomia é fator chave que move milhões de pessoas ao país todos os anos. Que atire a primeira pedra - ou melhor, o primeiro polpetone! - para quem nunca associou a Itália com sua comida e sonhou em partir rumo a Toscana para fazer um curso de culinária ou saborear seus gelatos, vinhos, prosciutto e massas.
Importante mostrar que o turismo gastronômico também impacta no bolso dos locais em que ele é presente. Segundo a Skyscanner, 66% dos viajantes consideram a gastronomia como um fator importante na escolha do destino e 50% são propensos a gastar mais em experiências gastronômicas durante as viagens.
A World Food Travel Association diz que 53% dos turistas a lazer são também viajantes motivados a experimentar a comida local e que eles gastam 25% a mais do que turistas que não estão focados na gastronomia. Já segundo a OMT, o turismo gastronômico contribui com cerca de 10% do gasto total dos turistas internacionais.
Importante ressaltar que o turismo gastronômico pode ser ainda dividido em subsegmentos, como o enoturismo (turismo do vinho), o olivoturismo (turismo do azeite), ou mesmo turismo de bebidas, com rotas de cervejas e de uísque, por exemplo, e turismo do queijo em certas partes e regiões do mundo.
Todas essas subcategorias se desdobram em visitas às áreas de cultivo e produção, degustações, cursos e a comercialização direta de produtos. Ou seja, é toda uma cadeia que se liga. Juntam-se a ela eventos, hotéis, lojas e outras tantas atividades que provam que o turismo gastronômico é uma potência financeira para toda uma região.
Nosso país também entra na jogada. Na semana ada, o IBGE divulgou uma pesquisa que analisou dados de viagens relativos à pandemia de Covid-19, de 2020 e 2021, em comparação com 2023. Das 21,1 milhões de viagens nacionais e internacionais no ano ado, o estudo aponta que 21,5% dos viajantes brasileiros focou em cultura e gastronomia.
Apesar de sol e praia serem os motivos mais buscados para uma viagem, a pesquisa indica que esse tipo de viagem caiu, enquanto o interesse por gastronomia aumentou. “A participação desse tipo de lazer [sol e praia] caiu 9,4 pontos percentuais (p.p.) entre 2020 e 2023. Em contrapartida, houve um aumento de 6,0 p.p. nas viagens em busca de cultura e gastronomia”, disse William Kratochwill, analista da pesquisa.
O aumento também vai de encontro a uma maior atenção ao tema. Você sabia que a primeira política pública nacional voltada ao desenvolvimento do segmento foi lançada apenas em março de 2022? Falo do Programa Nacional de Turismo Gastronômico - Gosto Brasil, que promove ações visando o melhor posicionamento do país como destino gastronômico internacional. Formação profissional e realização de pesquisas estão entre as ações já realizadas pelo programa.
No começo do ano, a Embratur lançou uma competição de startups com o objetivo de encontrar soluções que promovam o turismo gastronômico nacional através de destinos, rotas e experiências. O mapeamento e a promoção de rotas e produtos brasileiros deve fortalecer comunidades e promover o desenvolvimento sociocultural e econômico nos municípios, ajudando a atrair mais turistas internacionais ao país.
São iniciativas que estão engatinhando, mas que mostram que o turismo gastronômico nunca esteve tão em alta por aqui.
Além disso, quando possível, participe de aulas de culinária - muitos hotéis e cruzeiros oferecem isso em um destino - e saia em direção a rotas gastronômicas. Não é preciso ir tão longe: o estado de São Paulo, por exemplo, tem criado algumas rotas no tema, como as recentes Rotas do Vinho de São Paulo e a Rota Turística do Queijo Artesanal Paulista.
Afinal, turismo é sim uma forma de gastronomia. E a gastronomia, por sua vez, é cultura.