Entrar em um desses cafés é como dar um mergulho no universo estético da marca. Não basta mais usar Prada. Agora, você pode bebê-la. A xícara é um espetáculo, o guardanapo tem design, o cardápio parece ter sido desenhado por um estilista. E o Latte? Quase uma obra de arte moderna, com espuma estampada no melhor estilo “selfie com logo”.

E é justamente aí que está o pulo do gato: esses espaços são pensados, antes de tudo, para gerar conteúdo. Sim, conteúdo. Porque hoje, meus amigos, nem vale o shot de café se não for para postar. Tudo ali é “instagramável” por natureza, dos lustres aos lattes. ando por flores estrategicamente posicionadas, cada clique é um comercial grátis e cada story é um desfile digital.

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Mas o grande charme dessa estratégia é que, diferentemente de uma bolsa de R$ 30 mil, o cafezinho de R$ 50 com o logo da marca está ao alcance de muitos bolsos. É o fast- para o mundo do luxo: uma entrada vip na fantasia, ainda que dure só até o café esfriar.

Não à toa, muitos desses cafés estão coladinhos nas lojas principais. Você vai pelo café, dá uma voltinha pelas araras e… quem sabe? Um perfume, um óculos, uma bolsa que “você só queria ver”. É o velho golpe do “olha só” que termina em “a no débito”.

Um dos pioneiros dessa tendência foi Ralph Lauren, que, em 2014, lançou o Ralph’s Coffee, um café tão elegante quanto um paletó de linho branco nos Hamptons. De Nova York a Paris, o conceito se espalhou como chantilly. Hoje são mais de 30 unidades em três continentes e nenhuma xícara fora do lugar.

No fim das contas, esses cafés não são apenas bonitos, mas são estratégicos. Eles vendem estilo, criam conexão, fazem a marca sair da vitrine e entrar no cotidiano, mesmo que seja só por 15 minutos e um coadinho.

Porque, no fim, viver o luxo virou mais importante do que tê-lo. E se for postado com a luz certa, então, já valeu o investimento.

*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia

Sobre Caio Tucunduva

O engenheiro civil e especialista em cafés Caio Tucunduva • Divulgação
O engenheiro civil e especialista em cafés Caio Tucunduva • Divulgação

Engenheiro civil, Caio Tucunduva é especialista e mestre em sustentabilidade pela USP. Se apaixonou pelo mundo do café e, já especialista em hospitalidade, começou pelos cursos do Senac de barista e gestão de bares e restaurantes. Formou-se como degustador e classificador de café, tornando-se mestre de torra. Foi para a Austrália oferecer consultoria de torra de café brasileiro e aprendeu novas técnicas, como a blendagem de café verde, uma de suas marcas registradas. Ainda desenvolveu uma técnica de maturação de cafés especiais em madeiras e destilados. Hoje, percorre o país atrás de bons produtores.

 

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Moda para beber e postar: como café pode ser tão poderoso quanto um desfile | CNN Brasil V&G