Assim, quando a filha cresceu e se formou, o casal encontrou uma oportunidade de ensino na Ásia Central e decidiu pegar a estrada novamente, numa aventura que os levou primeiro ao Cazaquistão e, mais tarde, a uma pequena cidade no Uzbequistão, que ficou sob regime da URSS até 1991.
Apesar do receio inicial de terem ido parar numa antiga e austera região soviética, sujeita a quedas de energia e ondas de calor ináveis, o casal afirma que a mudança foi uma experiência incrível, que trouxe benefícios não encontrados no Ocidente.
Segundo Zora, originalmente da antiga Tchecoslováquia, eles "acharam que era hora de retomar nossa vida nômade" depois que a filha saiu de casa. Quando descobriram que o Cazaquistão estava em busca de professores, o casal pensou que "parecia um projeto interessante" e se inscreveu, ando quase cinco anos lá.
"Acho que a maioria das pessoas não tem ideia de quão grande o país é geograficamente e de quantas minorias vivem lá", comenta ela.
Após encerrarem o trabalho no Cazaquistão, os Keffer aceitaram um contrato no Kuwait e acabaram "presos" no país durante a pandemia de covid-19. Quando as restrições de fronteira começaram a ser flexibilizadas, estavam prontos para algo novo mais uma vez.
"Às vezes é difícil voltar à vida normal", comenta Zora sobre a vontade de continuar mudando de lugar. "Você acaba vivendo uma existência altamente imprevisível. Às vezes é frustrante, mas é empolgante".
Em março de 2020, Zora e Dave receberam uma proposta para trabalhar em uma escola para "crianças superdotadas" no Uzbequistão e começaram a considerar a possibilidade de se mudarem para lá.
Embora não estivessem muito entusiasmados ao pesquisarem sobre Nukus, a sexta maior cidade do Uzbequistão, e encontrarem uma descrição pouco inspiradora, decidiram dar uma chance.
Quando chegaram ao Uzbequistão, em 2020, Zora ficou impressionada com a arquitetura do país, descrevendo-a como "uma mistura de prédios utilitários e sem graça da era soviética ao lado de arranha-céus modernos".
Embora o país ainda estivesse "sob a nuvem da Covid", Zora e Dave, que tinham um visto de trabalho com múltiplas entradas, adaptaram-se relativamente bem e foram calorosamente recebidos.
"Os moradores locais são extremamente educados e amigáveis", diz Zora. "Dave e eu tivemos a sorte de participar e aproveitar muitas das tradições que uma sociedade tão colorida oferece."
Embora a vida em um país como o Uzbequistão possa ser difícil para os recém-chegados, Zora explica que a experiência no Cazaquistão facilitou a adaptação.
"Tudo é Ásia Central", diz ela. "Ambos são ex-repúblicas soviéticas. Culturas muito parecidas. Então o Uzbequistão não foi um choque cultural".
Apesar de inicialmente terem suas reservas sobre Nukus, com uma população estimada em cerca de 329 mil habitantes, eles adoraram morar lá e se sentiram à vontade na comunidade.
"As pessoas adoram praticar inglês", diz Zora. "É realmente engraçado. Elas te param o tempo todo, querendo conversar (em inglês)."
Como nem Zora, nem seu marido falam uzbeque, eles costumavam usar o Google Tradutor para se comunicar com os locais. "O Google Tradutor é seu melhor amigo aqui", acrescenta.
Uma das coisas que Zora mais amava no Uzbequistão era o fato de estar sempre vivendo novas experiências. "Nunca é entediante", ela diz. "Aqui não tem nem um minuto de tédio".
No entanto, havia algo com o qual ela nunca conseguiu se acostumar: as frequentes quedas de energia, que começaram por volta da época em que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022.
"Faz muito calor aqui", comenta. "E quando o ar-condicionado não funciona, não é nada divertido. Isso posso te garantir".
Ela continua: "Você tem que ser muito flexível, porque nunca sabe o que vai acontecer. Flexibilidade é a prioridade. Esse não é um lugar para pessoas rígidas".
Embora Zora e o marido tenham se adaptado facilmente à vida no Uzbequistão, ela ressalta que contar com o apoio um do outro fez toda a diferença, e provavelmente é muito mais difícil para quem se muda sozinho.
"É uma comunidade pequena", diz ela sobre Nukus. "Você definitivamente não encontra o mesmo número de expatriados como em Tashkent, por exemplo, a capital."
"Aqui não é assim, porque é uma cidade pequena. Então, você tem que se esforçar um pouco mais para conhecer pessoas".
Zora, que relatou suas experiências em um blog, conta que ficou impressionada com a força da comunidade local e como seus integrantes estavam sempre dispostos a ajudar uns aos outros.
"A comunidade aqui é muito mais forte", afirma. "As famílias são mais unidas. Perdemos um pouco disso no Ocidente, se é que você me entende.
"As pessoas ainda dependem muito umas das outras, até certo ponto. Porque aqui não há a mesma rede de proteção social. Então, realmente é uma necessidade. Se algo der errado, você conta com sua família".
Embora assem grande parte do tempo em Nukus, Zora e Dave viajavam para a capital, Tashkent, a cada seis semanas ou mais, para "um final de semana relaxante."
Em 2021, o casal tirou uma folga do trabalho para explorar as cidades da antiga Rota da Seda — Samarcanda, Bukhara e Khiva.
"Não consigo imaginar deixar o Uzbequistão sem ver essas cidades lendárias," diz ela. "São realmente incríveis. É como voltar no tempo e entrar numa daquelas histórias de ‘As Mil e Uma Noites’. É mágico."
Zora e Dave ficaram impressionados com Khiva, uma pequena cidade localizada no sudeste do Uzbequistão.
"As pessoas não sabem muito sobre Khiva, porque não fica na mesma região que Samarcanda e Bukhara", explica, antes de descrever a "experiência assustadora" de subir no minarete Islam Khodja, que mede 45 metros.
"Muita gente a batido, mas é também uma cidade maravilhosa, com uma arquitetura lindíssima".
Quando perguntada sobre o que mais gostava de viver no Uzbequistão, Zora não hesita em dizer: seus alunos.
"As crianças aqui são tão educadas", diz ela. "Isso é, na minha opinião como professora, o maior ponto positivo, porque não temos problemas de disciplina".
Zora também elogia a culinária uzbeque, descrevendo as frutas e verduras como "de outro mundo".
"São muito melhores, comparadas ao que temos no Canadá ou na América do Norte devido ao clima," afirma.
"Aqui você tem sol o tempo todo. E o sabor é incrível comparado aos produtos de supermercado no Canadá."
Embora tenham achado o Uzbequistão muito ível, Zora observa que isso é "relativo", pois eles ganhavam um "salário razoável".
"Se estivéssemos ganhando um salário local, obviamente não seria tão barato", pontua Zora.
Quando perguntada sobre o que mais sentia falta do Canadá, a professora confessa que assistir a grandes lançamentos de cinema sem dublagem estava no topo da lista.
No entanto, o casal conseguiu assistir a alguns balés e apresentações de dança moderna ao vivo em Tashkent.
"Isso é um grande ponto positivo", comenta. "Porque os ingressos são muito baratos para nós. E os espetáculos eram maravilhosos. Então você precisa focar nisso. Sem filmes, mas com danças incríveis".
O casal também participou de celebrações tradicionais, como o Nowruz, o festival que marca o Ano Novo persa, um feriado oficial no Uzbequistão todo dia 21 de março.
“Ferver um pudim em um enorme caldeirão por 10 horas é uma parte importante,” explica Zora.
Um dos pontos negativos de viver em um lugar como o Uzbequistão foi que poucos amigos e familiares conseguiram visitá-los, principalmente porque “é muito longe.”
“Essa é uma razão,” diz ela. “E a outra, ainda mais importante, é que não temos folga do trabalho.”
O casal retornava ao Canadá todo verão para reencontrar amigos e familiares. “É bom se reconectar,” comenta. “Só para ver que continua tudo lá.”
Zora aconselha aqueles que pensam em se mudar para o Uzbequistão a considerarem que o país “continua em desenvolvimento” e que provavelmente não terão o às mesmas comodidades e estilo de vida a que estavam acostumados.
“Não se deve esperar o mesmo nível de conforto e eficiência”, acrescenta. “É fundamental ser muito flexível e ter um grande senso de humor... Me tornei muito mais aberta e ainda mais flexível do que era antes dessa experiência.”
Após quatro anos no Uzbequistão, Zora e Dave decidiram mais uma vez se despedir de seu lar e buscar uma nova aventura.
Agora aposentados, eles planejam ar o próximo ano viajando bastante antes de decidirem a próxima etapa.
Embora retornem brevemente ao Canadá, Zora afirma que não pretendem permanecer no país. “Amamos o Canadá, mas isso não significa que vamos ficar parados”, diz. “Espero que nunca percamos nosso desejo de explorar o mundo”.
Quando perguntada sobre o próximo destino, Zora enfatiza que ainda estão decidindo. “O futuro é incerto”, conclui.
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