Mas a apenas uma hora de Barranquilla, terra natal de Shakira, a cidade mais antiga da Colômbia guarda para si dois títulos que a deixam seduzente: autenticidade e ancestralidade.

Junte isso a praias de águas quentes, simpático centrinho histórico colorido, ritmos musicais que vão da cumbia ao reggaeton, comidas para lá de temperadas com influências caribenhas e resort pé na areia e você tem à sua frente Santa Marta.

Em meio a tais atributos, simplicidade também é palavra-chave: luxo não é ostentado como algo material - e nem precisa. É o calor, com temperatura média de 28ºC, a história, de importância essencial para a América Espanhola, e a comida, com frutos nativos, frituras e temperos únicos, assim como as paisagens e o agito noturno, que marcam a experiência.

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Parque paradisíaco, cafés de origem e cidade perdida

A apenas uma hora de avião da Cidade do Panamá, Santa Marta é porta de entrada para a Sierra Nevada, sistema montanhoso litorâneo mais alto do mundo que é Reserva da Biosfera pela Unesco, e também para as praias do Parque Nacional Natural Tayrona.

Enquanto a primeira é lar para povos indígenas e surpreende pelo jogo entre mar, serra, calor e neve, a segunda está situada entre a serra e o mar do Caribe, o que lhe confere paisagens e eios únicos.

Embora as praias urbanas de Santa Marta não tenham o apelo do Caribe, é no Parque Tayrona que os típicos visuais caribenhos se destacam, com águas mais transparentes e vegetação verde. A 34 km do centro da cidade fica a entrada via terrestre, mas é possível também chegar pelo mar.

As praias imperdíveis no Parque Nacional Natural Tayrona são: Bahía Concha, a Playa Cristal e a famosa Cabo San Juan del Guia, a mais visitada e que demanda caminhada de duas horas, mas que recompensa com os visuais. As entradas em Tayrona saem 62 mil COP na baixa temporada (R$ 77) e 73.500 COP na alta (R$ 91).

Playa Cristal, uma das mais conhecidas do Parque Nacional Natural Tayrona / Hugo A. Quintero G /Flickr
Playa Cristal, uma das mais conhecidas do Parque Nacional Natural Tayrona / Hugo A. Quintero G /Flickr

O parque é o segundo mais visitado da Colômbia e abrange 15 mil hectares. A dica é optar por eios de barco em grupo, que podem sair da marina do centro de Santa Marta e que dão uma melhor perspectiva da área. A vantagem é poder nadar em águas calmas e límpidas ao longo do caminho, assim como praticar snorkel.

Já continente adentro, a 42 km da costa, uma das maiores preciosidades da Sierra Nevada, que tem pico de 5.775 m, é a produção de café. Segundo o governo colombiano, mais de quatro mil famílias estão envolvidas na produção local, enquanto cinco mil fincas cafeteiras se espalham pela região - se quiser visitar uma delas, a dica é ir para Minca, onde o ecoturismo brilha com rios e pequenas propriedades a 40 minutos de Santa Marta.

As plantações na Sierra Nevada são feitas à sombra de árvores nativas, e a radiação solar junto a uma estação seca fazem com que o café arábica de denominação de origem tenha acidez média e notas achocolatadas.

O plantio é também exercido pelas comunidades indígenas, principalmente pelos Arhuacos, Koguis, Wiwas e Kankuamos, que trabalham para a recuperação de suas terras.

A Amorigen é um destes projetos em que a ancestralidade se mistura à vida cotidiana: a marca vende café orgânico da etnia Kogui por 40 mil COP (cerca de R$ 50 por 500g de café moído) e também artesanato, como as mochilas dos Arhuacos, que podem ser encontrados em estabelecimentos pela cidade e na loja online.

Por falar em ancestralidade, a Sierra Nevada é lar ainda da Ciudad Perdida, área sagrada para os indígenas fundada ao redor do ano 800, seis séculos mais antiga que Machu Picchu. Hoje, ruínas da antiga cidade se misturam à paisagem tomada pela natureza.

Cidade Perdida na Colômbia é mais antiga que Machu Picchu e fica encravada na Sierra Nevada, uma Reserva da UNESCO / Katie Bordner/Flickr
Cidade Perdida na Colômbia é mais antiga que Machu Picchu e fica encravada na Sierra Nevada, uma Reserva da UNESCO / Katie Bordner/Flickr

Chegar ali, porém, não é fácil: o trajeto leva cerca de quatro dias de caminhada e não há hotéis e restaurantes pelo caminho. É recomendado estar ao lado de um guia e levar barraca e comida. Os aventureiros que chegam às ruínas afirmam que a conexão com o local é poderosa, mas é o caminho que faz valer a viagem.

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O centrinho e eios

Além das praias e das descobertas pela serra, o centrinho de Santa Marta é onde a alma local se revela. De dia é ideal percorrer o Malecón de Bastidas, espécie de calçadão à beira-mar, e tomar um café no Ikaro Cafe, que oferece cardápio vegano e vegetariano em ambiente fotogênico em uma ruazinha de casas coloridas - os cafés são provenientes de finca própria na Sierra Nevada.

Nos arredores do Parque Bolívar, grande praça central, há o Museo del Oro Tairona, que expõe objetos arqueológicos da Sierra Nevada em um antigo casarão do século 18. A entrada é gratuita e funciona como boa paradinha para abrigo do calor no ar-condicionado.

A poucos os fica a Catedral Basílica de Santa Marta, graciosa construção branca do século 18 que abriga os restos mortais de Rodrigo de Bastidas, fundador da cidade em 1525.

Já o comércio em volta do Parque de Los Novios, outra praça central, ganha uma sobrevida com o cair do sol: é durante a noite, principalmente aos finais de semana, que as redondezas ganham muito agito. As ruas ficam lotadas de pessoas, os bares e restaurantes disputam clientela na calçada, eventos se desenrolam na praça e rooftops entram madrugada adentro regados a muita música.

Uma opção para quem deseja curtir uma verdadeira festa colombiana gastando pouco é o La Azotea Disco Bar. Sem pagar nada, basta subir alguns lances de escada e se deparar com um bar ao ar livre com pista de dança e globo espelhado suspenso ao centro. O local recebe DJ’s que tocam desde rumba até os hits mais recentes do reggaeton.

Tenha em mente que, de dia ou de noite, o trânsito no centro de Santa Marta é caótico. Táxis se sobressaem aos aplicativos de transporte, mas o preço da corrida até um endereço específico deve ser combinado previamente.

Já fora do centrinho, outras atividades valem a pena: separe algumas horas para conhecer a serena Quinta de San Pedro Alejandrino, antiga fazenda onde morreu Simón Bolívar, o “libertador da América”, em 1830. O nome do líder venezuelano não se atrela muito à história brasileira, mas é só colocar os pés aqui, em meio a árvores centenárias e móveis da época, para entender a importância de Bolívar para os países vizinhos ao Brasil na independência da América Espanhola. A entrada sai por 23 mil COP (cerca de R$ 28,50).

Outra figura importantíssima para a Colômbia é o autor Gabriel José García Márquez, que nasceu a 85 km de Santa Marta, no povoado de Aracataca. Um pulinho na cidade revela a casa onde viveu com os avós, hoje um museu, e a conservada estação de trem, ambas construções citadas em "Cem Anos de Solidão", que lhe rendeu o Prêmio Nobel em 1982.

De volta a Santa Marta, a Reserva Mamancana fica no sopé da Sierra Nevada, a poucos minutos da Playa Dormida, e funciona como um beach club nas montanhas, sem o mar por perto, mas com vista para ele. É ideal para ver um pôr do sol com drinque em mãos no deque com vista para a cidade. O local ainda possui restaurante e oferece eios 4x4, com possibilidade de day use.

Resort à beira-mar

Para uma estadia descomplicada, a opção certeira na cidade é o Santa Marta Marriott Resort Playa Dormida (diárias a partir de US$ 170, ou cerca de R$ 850).

O grande edifício contemporâneo tem 168 acomodações e pode ser visto já da pista do aeroporto, situado a apenas cinco minutos do resort. Os aviões que decolam e pousam são automaticamente grandes atrações vistos da areia e da piscina, com as asas a poucos metros dos banhistas - e que não atrapalham em nada a estadia.

O resort recebe casais e famílias com crianças e adolescentes, em que os colombianos são o maior público seguido dos americanos. Da arquitetura aos ambientes internos, linhas contemporâneas com uso de madeiras típicas e cores amenas em referência direta à Sierra Nevada ditam o tom.

Todos os quartos têm varandas e amplos ambientes em madeira. A categoria mais luxuosa compreende as suítes, que ficam de frente para o mar com terraços dotados de jacuzzis privativas. No térreo, uma piscina ao ar livre é abastecida por bar, ideal para pedidas refrescantes, como sucos de frutos locais de lulo e corozo até uma irresistível cerveja.

A Playa Dormida, onde se localiza o hotel, fica a 30 minutos do centro, o que confere tranquilidade e uma água do mar que chega a ser mais quente que a da própria piscina. Guarda-sol e cadeiras são dispostos aos hóspedes na areia, os quais são abordados por vendedores ambulantes e massagistas - ambiente familiar às praias brasileiras.

Se relaxar estiver na mira, levante cedo e agende uma aula com um instrutor de yoga nativo. Não importa que a aula ocorra dentro do resort ou em um gramado sintético: o som das ondas sempre está ao fundo para ajudar na tarefa de se conectar consigo mesmo. Depois, suba até o spa Seishua, com diversos tratamentos, banhos em jacuzzi e sauna.

E é na parte gastronômica que o hotel fala ainda mais a língua da Colômbia: tanto os restaurantes 1525 e o Cayeye servem receitas típicas de diferentes zonas do país, mas também agradam paladares estrangeiros.

O café da manhã é um bom exemplo. Além da estação com preparos internacionais, como panquecas, salsicha, linguiça e ovos, há seção de comidas típicas: entram em cena arepas, empanadas de carne, patacones e aguaa (uma infusão de rapadura).

Arroz com coco, cocadas, pescado frito e cayeye (purê artesanal de bananas verdes) são comidas típicas de Santa Marta. Patacones e ajiaco, sopa do interior colombiano com frango, milho e batatas acompanhada por arroz e abacate também não faltam no Santa Marta Marriott Resort Playa Dormida.

Gastronomia local e colombiana

Noites temáticas regadas a música e brunches de domingo são rotineiros na agenda do resort. Mas eventos especiais ganharam fôlego a partir de agosto: exemplo disso é que o hotel, através do programa de fidelidade Mariott Bonvoy, convocou o estrelado chef colombiano Edwin Rodríguez para comandar um jantar inédito que foi uma verdadeira viagem pelos sabores e saberes da Colômbia, em uma iniciativa para mostrar o potencial da cozinha latino-americana.

À frente do restaurante Quimbaya, em Madrid, primeiro restaurante colombiano com estrela Michelin da Europa, o chef levou à mesa diferentes preparos e técnicas de departamentos colombianos. Foram mais de 10 tempos, 20 preparações e seis horas de jantar.

Os sotaques foram aparecendo: pandebono, típico do departamento de Valle del Cauca; chontaduro, fruto das bacias amazônicas; e carne oreada, preparo típico do departamento de Santander, foram alguns dos destaques da viagem gastronômica junto de frutos do mar do litoral, como polvo e atum-amarelo. Entre um prato e outro, fermentados lembravam uma cultura ancestral, como o masato, de arroz, e a chicha, de abacaxi, milho e a (a rapadura).

Se ficou com água na boca, anote: fora do resort, é no restaurante Guasimo que se pode ter um gostinho de uma gastronomia colombiana caprichada. O chef Fabian Rodriguez é responsável pelo concorrido e agradável espaço no centro de Santa Marta, decorado com quadros da vida marinha pintados por ele mesmo.

Amigo do chef Edwin, ele prepara na casa pratos à la carte e um menu-degustação com o melhor da região, tanto do mar quanto da terra. Frutos nativos, inclusive, aparecem nos pratos e nos coquetéis.

E lembre-se: depois de um jantar caprichado ou um eio no centrinho nas noites de sexta e sábado, se prepare para uma dose extra de alegria, já que bandas locais não deixam ninguém parado com vallenato e cumbia na areia do restaurante Cayeye. Os ritmos são contagiantes e nem mesmo o calor impede que todos caiam na dança.

*O jornalista viajou a convite da Marriott International.


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Cidade mais antiga da Colômbia é entrada para maravilhas naturais, cafés e ancestralidade | CNN Brasil V&G